sábado, 28 de abril de 2012

Um Lugar de Mato Verde

Mais de dez anos se passaram após eu ter saído daqui.
Era um sentimento muito estranho voltar a este lugar, outrora uma bela e próspera fazenda.
Depois de tantos anos, as lembranças estavam vivas, materializadas em cada recanto!



Imagem atual do  "meu lugar de mato verde"

Aqui meus filhos cresceram, tornaram-se adolescentes, adultos... podia ainda ouvir seus risos entre as paredes escurecidas pelo tempo, o riso alegre das minhas crianças!
Os fantasmas do passado também ainda viviam, os momentos de angústia ainda doíam!
A casa em completo abandono tornava mais vivos estes sentimentos sombrios.


Percorri cada comodo da casa, examinei cada móvel, cada objeto largado, tudo estava tão triste, empoeirado. Grandes teias trançadas pelas aranhas enroscaram-se em meus cabelos!
Senti um vazio tão grande!
Mas o velho  piso colorido da sala de jantar e o meu fogão de lenha na cozinha trouxeram uma saudade gostosa, havia esperança ainda!






Sai para o terreiro, o mato parecia querer entrar em casa!
As velhas laranjeiras no pomar estavam retorcidas,  secas e meu coração ficou dolorido novamente.
Lembrei-me de meu pai escondido entre os ramos carregados de uma delas, deliciando-se com as serras d'água pingos de ouro, que adorava.







                                                                                                                                                                            As cercas da propriedade estavam caídas, troncos de árvores apodrecidos por toda parte, não havia mais horta, nem jardim!
Da fazenda antiga restavam  apenas  a casa abandonada, o mangueiro, o estábulo, alguns galpões em péssimo estado de conservação,  poucos hectares de terra descuidada, uma vaca e um cavalo.



Um grande desanimo se apoderou de mim. Como iria cuidar daquele bem, sem recursos?
Poderia vendê-lo!  Não, não queria me desfazer dele!
Respirei fundo, haveria muito trabalho!
Dei a volta a casa.
O varandão em arco exibia seu piso gasto e manchado  de óleo diesel, mas a grande Sapucaia continuava ali, cheia de frescor e viço!
Novamente a esperança se renovou!  Eu precisava tentar, eu precisava fazer aquelas terras se tornarem produtivas novamente. Precisava ver minha pequena quinta retornar à vida!


                                                                           
Passaram-se sete anos desde o dia em que retornei.
Foi um tempo de muito trabalho realmente, mas minha família estava reunida.
Cada pedacinho de chão foi cuidado.  Pequenas lavouras de milho,  de cana, de ração para o gado foram plantadas. As pastagens foram renovadas ( hoje em sistema rotacionado ). Reconstruímos o jardim, o gramado, plantamos mudas nativas, cercas novas foram feitas...Muita coisa ainda há para fazer...
Foram dias difíceis, percebi que neste pais é quase impossível se viver da terra.
Ouvimos com frequência dizer que "em se plantando tudo dá".  É a mais pura verdade, nossa terra é abençoada,  porém é verdade também que a gente planta e fica perdido entre o custo altíssimo dos insumos e o valor insignificante que o produto alcança no mercado.




Além disso a natureza parece conspirar contra o produtor rural.
São pragas e intempéries: chuvas intensas que comprometem as safras de verão ou longos períodos de estiagem, que prejudicam o desenvolvimento das plantações.
Seria necessário desenvolverem-se técnicas para amenizar os impactos destes fatores naturais, mas não existe em nosso país uma política agrícola séria e eficaz. É o produtor que assume praticamente todos os riscos a que está sujeita sua produção e assim cresce o endividamento no setor.

Na cidade não se tem idéia do trabalho que dá plantar, colher, retirar o leite das vacas diariamente, cuidar dos animais, do solo.
Tudo está pronto nas gôndolas dos super mercados:  carnes, leite, manteiga, queijos, iogurtes, frutas, legumes, verduras, cereais...
Ninguém se lembra, no entanto, de quem produziu todo esse abençoado alimento que vai para  nossas mesas diariamente..

                

      

O homem do campo não estudou, mas sacrificou-se para mandar seus filhos às faculdades, formando médicos, veterinários, agronomos...
Para melhorar sua produção adquire implementos agrícolas, aprende novas tecnologias, aduba suas terras, compra sementes, insemina o gado. ..
Ele é a base da economia do país, mas não tem noção disso e não existe reconhecimento do seu trabalho por parte do governo e da sociedade.


Temo que esta personagem esteja em extinção!
Só mesmo o amor incondicional que tem pela terra pode justificar sua permanência na atividade, que o leva a procurar  novas tecnologias e estratégias para diminuir custos e aumentar a produção, sonhando com dias melhores, em que seus esforços sejam recompensados.




Quanto a mim, apesar de toda dificuldade estou feliz!
Encanto-me ao ver meus netos correndo livres por entre essas árvores e flores, que alimentam sua imaginação.
Sou feliz ao vê-los crescer em contato com a Natureza, com os animais, colhendo frutas no pé, plantando flores, chupando cana, sujando as botas no esterco do mangueiro, tomando leite ao pé da vaca.
Sou levada pelo meu romantismo, mas sei que preciso ter os pés no chão! Por isso estou me preparando para ir mais longe. Não quero, como pensei a principio apenas "um lugar de mato verde".
Quero que esta propriedade possa se auto - sustentar, que se torne próspera novamente.

2 comentários:

  1. 2016/julho, eu e meu neto LUCAS pudemos presenciar a beleza da terra das Flores do cheiro da Mata verde e do grande projeto AGROFLORESTAL.Através do texto dá pra ouvir as risadas de " minhas criancas".

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  2. 2016/julho, eu e meu neto LUCAS pudemos presenciar a beleza da terra das Flores do cheiro da Mata verde e do grande projeto AGROFLORESTAL.Através do texto dá pra ouvir as risadas de " minhas criancas".

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